Surgida em 1996 – na terra do cacau e das estórias de Jorge Amado, Ilhéus – O Quadro é uma das mais antigas bandas de Hip Hop da Bahia.

Não gosto de Hip Hop, Rap, ou variações destes estilos – deve haver um tanto de preconceito nesta minha percepção do estilo.

Não quero comparar maçãs com laranjas, mas, com O Quadro, senti algo parecido com o que senti quando ouvi DJ Dolores pela primeira vez. Achava que odiava tudo que vinha de DJs. Achava que era tudo igual. Mas, não é!

Não posso dizer que gostei d`O Quadro tanto quanto gostei de DJ Dolores, mas foi uma grata surpresa para mim a qualidade do som dos caras.

A banda é musicalmente rica e as letras das suas músicas não são óbvias como em geral me parece acontecer neste estilo.

Outro fator que me surpreendeu foi o modo com que os músicos da banda se apresentavam. Todos elegantemente vestidos e postados. Não era o caso dos vocalistas, porém. Estes estavam vestidos e se portavam (com direito a trejeitos e atitude característicos) mais como se imagina um grupo de hip hop brasileiro...

Parece que este evento foi feito para mim – não o fotógrafo, sim o professor.

Antes de saber que fotografaria Wim Wenders e José Padilha, no Fronteiras Brakem do Pensamento, assisti, com meus alunos da disciplina Produção de Multimeios, aos filmes ‘Buena Vista Social Club’, de Wenders, e Ônibus 174, de Padilha.

Não imaginei que teria a oportunidade de ouvi-los falar sobre estes filmes “ao vivo”. Feliz coincidência.

Ontem, na sala de aula, tivemos debate sobre os documentários assistidos, além de outros recomendados, a ser visto pelos alunos em suas casas (Vinícius, Samba Riachão, S.O.S. Saúde, Fahrenheit 911).

Foi muito bom ter conhecido um pouco mais do processo destes autores. O que eles pensavam quando faziam os seus filmes, quais são suas idéias e ideais.

Poder citar os próprios autores falando sobre os seus filmes é muito bom.

A palestra dos diretores foi muito boa.
José Padilha foi o primeiro.

Usando um boné – que provocava sombras nos seus olhos e tornava impossível se fazer uma foto legal do seu rosto (não deveríamos usar flash) – falou, inicialmente, sobre a Teoria dos Jogos e explicou que esta era a base para a narrativa dos seus filmes.

Para ele, o diretor do filme não deve tomar uma posição. Não deve exprimir o que pensa sobre a situação apresentada no filme. Ele deve, simplesmente, apresentá-la e buscar mostrar ao público o que levou aquele acontecimento a se desenrolar tal qual aconteceu. As circunstâncias que aqueles personagens seguiram para chegar onde chegaram. As regras daquele jogo social.

Depois de explicar a base do seu pensamento, Padilha usou os seus filmes Ônibus 174 e Tropa de Elite como exemplo.

Então afirmou, que só usando “o jogo” como método, um diretor pode ser acusado de ser radical de esquerda, ao apresentar o seu primeiro filme, e radical de direita, ao apresentar o segundo.

Padilha afirmou que é documentarista e continuará sendo. Tropa de Elite foi uma exceção – só não foi feito em forma de documentário, pois achou que seria muito arriscado para ele e para a sua equipe.

Padilha me pareceu um sujeito inteligente, desenvolto, com raciocínio límpido e direto. Pareceu-me simpático (a despeito do que já me foi dito por ai) e espirituoso.

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Em seguida, foi a vez de Wenders.

Ele começou tentando ganhar a simpatia da audiência mostrando-se espirituoso e descontraído.

Elogiou as idéias de Padilha e prosseguiu falando sobre a sua origem como cineasta – o que o levou a seguir este caminho.

Citou Glauber Rocha como um dos diretores que o fez sentir vontade de fazer cinema – talvez ainda tentando conquistar a audiência.

Wenders, então, discorreu sobre a importância do “local” para o cinema. Sobre como ele só aprecia, realmente, filmes que mostram realidades locais, valores regionais, que enfatizam a diferença, em oposição aos filmes de Holywood que mostram um mundo americanizado.

Ele se disse um viajante. Adora viajar. Conhecer outros lugares e suas particularidades. E como isso está intimamente conectado ao fato de ser diretor de cinema.

Reconheceu a importância dos filmes de entretenimento e disse que já assistiu a muitos deles, tais quais Harry Potter, Homem Aranha, Batman, Star Wars. Afirmou, porém, que estes são para ser visto uma única vez... para distrair a cabeça.

Bons filmes podem ser assistidos diversas vezes e continuam ensinando, sensibilizando, provocando reflexão.

A forma que eu achei para explicar o que o diretor queria dizer, foi uma analogia com comida (tomando emprestado um artifício retórico do nosso querido Presidente Lula).

O bom filme deve ser como a cozinha local: seus sabores exóticos, temperos diferentes, ingredientes regionais e uma forma única de misturar tudo isso e preparar o alimento.

A cozinha local revela história, cultura, modo de viver, clima, relevo, agricultura de um povo. Comer a comida de um local diferente que se visita, ajuda ao viajante aprender e pensar um pouco sobre tudo isso.

O filme de Holywood seria o Mcdonalds – igualzinho onde quer que você vá, não te conta nada de novo, não de ensina nada.... no máximo, te alimenta (aliás, não é o que pensam os nutricionistas). Digamos, apenas mata a sua fome imediata.

Wenders seguiu neste raciocínio falando um pouco sobre cada um dos seus filmes; delineando, sinteticamente, a sua trajetória de autor de cinema (e de viajante internacional).

Terminou mostrando duas das suas últimas produções: dois curtas documentais feitos na África.


O segundo curta, “Invisible Crimes”, é forte e emocionante.

De forma sensível e criativa o diretor denuncia a violência, marcadamente sexual, sofrida por meninas e mulheres do Congo, durante anos de guerra.

O filme faz parte da série “Invisibles”, em que cinco diretores, de diferentes partes do mundo, abordam problemas sociais que, a despeito de chocantes, não ganham visibilidade na mídia, nem são notados pela maior parte da população do globo.

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Após os filmes, abriu-se espaço para perguntas do público.
Nenhuma grande pergunta.O espaço serviu apenas para dar aos diretores um tempo para complementar suas idéias e fazerem suas considerações finais.

Batatinha foi um dos grandes sambistas da Bahia. Fazia samba de verdade.
O Grupo Botequim é, literalmente, um grande grupo de sambistas.
Seus integrantes compõem e pesquisam samba tendo sempre em vista a sua tradição.

Nos últimos anos eles vêm pesquisando o trabalho de Oscar da Penha, mais conhecido por Batatinha.
O show que fotografei apresenta justamente esta pesquisa e faz uma homenagem ao mestre.
Samba para quem gosta de samba.

Com direito a caixa de fósforo...

... e prato.

O show contou com diversas participações especiais de tradicionais sambistas baianos e dos filhos do próprio Batatinha.